Um Mergulho Histórico em Paranapiacaba

Que tal embarcar num trem da década de 50 e desembarcar num clima londrino sob a névoa, com casas de madeira e se aventurar numa trilha pela Mata Atlântica? Essa é a proposta do Passeio pelo Expresso Turístico com destino a Paranapiacaba. Vamos iniciar nossa jornada?

O mergulho histórico começa quando entramos no Expresso Turístico da CPTM na Estação da Luz em São Paulo às 8h30 do domingo em direção à Vila de Paranapiacaba, que pertence à cidade de Santo André, fica a aproximadamente 48km de São Paulo e cujo nome significa “Lugar de onde se vê o mar”, o que faz jus aos seus 796m de altitude em relação ao nível do mar. Quem me acompanhou nessa aventura de hoje foram minha irmã Ane e nossa amiga Claudia.

Com a Claudia e a Ane na Estação da Luz!!!

O trajeto é feito a bordo de dois vagões de aço puxados por uma locomotiva, todos fabricados na década de 1950 e o percurso dura cerca de duas horas. Período em que você vai apreciando as paisagens e ouvindo informações sobre o que vai aparecendo pelo caminho. Mais detalhes sobre o trem estão no site: http://www.cptm.sp.gov.br/sua-viagem/ExpressoTuristico/Trajetos/Paginas/Trem-Expresso-Paranapiacaba.aspx

Vale lembrar que os ingressos se esgotam muito rápido, então, se puder já compre com antecedência para a data que deseja ir. Também é possível surgir alguma vaga perto da data pretendida quando ocorre alguma desistência (foi o que aconteceu no nosso caso). Os ingressos custam a partir de R$ 50 – ida e volta (partindo da Estação da Luz) e R$ 40 (partindo da Estação Prefeito Celso Daniel em Santo André). E se forem mais pessoas tem desconto (pagamos R$115 para as três).  Para saber quais as vagas disponíveis, é só consultar o site: http://www.cptm.sp.gov.br/sua-viagem/ExpressoTuristico/Pages/Vagas-e-Calendario.aspx. Esse Expresso Turístico também faz roteiro para Jundiaí e Mogi das Cruzes (que pretendo fazer futuramente e postar aqui). Mas se você já fez, me conta como foi e passa as dicas nos comentários.  Agora voltando a falar do nosso tour de hoje, dá só uma olhada na vista do trajeto, que vai de ruínas de indústria até a vegetação da Mata Atlântica.

As Paisagens do Caminho….

No próprio trem, membros da AMA (Associação de Monitores Ambientais e Culturais) de Paranapiacaba nos informam sobre os passeios e os pacotes.
Mas também é possível contratar guias e saber essas informações diretamente no Centro de Visitantes do Parque (que fica na Rua Direita, 371).  Mais detalhes do que fazer na Vila (inclusive hospedagem e restaurantes) estão no site: http://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/paranapiacaba. O circuito cultural do City Tour pode ser feito por conta própria e você só paga as entradas dos museus, já as trilhas precisam de guias. Mas optamos por fechar o City Tour e a Trilha do Olho D’ Água  e valeu muito a pena. Os guias: Cristina (City Tour) e Gustavo (Trilha) são muito atenciosos e conhecem muito sobre o que falam. Os roteiros oferecidos custam a partir de R$30 e se fechar mais de um tem desconto (no nosso caso ficou por R$55 os dois passeios por pessoa).

Quase chegando na estação, já avistamos um dos cartões postais da cidade: o Relógio Big Ben,  que é uma réplica do Big Ben de Londres, tem  aproximadamente 20m de altura,   e foi trazido para o Brasil em 1898 pelos funcionários da São Paulo Railway com a intenção de regular o horário dos trens e dos funcionários da empresa ferroviária e também relembrar a Inglaterra. Agora ele está em manutenção, mas vou te mostrar uma foto de quando ele estava funcionando para você ter uma ideia de sua beleza.

Relógio Big Ben

Ao desembarcar na Estação de Trem de Paranapiacaba já somos convidados a apreciar a paisagem e entrar no clima de volta ao passado… Passeando pela Parte Baixa da cidade: a Vila Nova, também conhecida como Vila dos Ingleses, encontramos construções típicas da arquitetura inglesa, com casas de madeira pré-moldadas, fabricadas com pinho de riga (madeira nobre do Leste Europeu).

A Bela Paisagem de Paranapiacaba

Continuamos nosso caminho, agora em direção ao Clube União Lyra Serrano, que foi formado em 1936 pela junção de dois clubes: a Sociedade Recreativa Lyra da Serra (ligada às artes) e o Serrano Futebol Clube (ligado ao esporte).

O prédio do Clube União Lyra Serrano, que foi construído em 1938, possui um hall de entrada com duas saídas e o salão social que serve como salão de baile, abriga uma feirinha de artesanato (no segundo domingo do mês) e tem um palco (onde aconteciam as projeções de cinema e atualmente os concertos no Festival de Inverno). Além da sala de troféus, também tem o Café Bar do Lyra, onde provei o Gelinho de Cambuci (muito bom!!!).

Nossa próxima parada foi em um dos principais cartões postais de Paranapiacaba: o Museu Castelo (também chamado de Castelinho), que foi construído em 1897 em estilo vitoriano inglês para ser a casa do engenheiro-chefe da ferrovia: Frederic Mens. Sua posição é estratégica, fica no ponto mais alto da vila, de onde se tem uma vista privilegiada, permitindo que o engenheiro-chefe pudesse acompanhar o trabalho dos funcionários na ferrovia e a movimentação dos trens.

Além de sua beleza e detalhes arquitetônicos, como a construção em madeira e as lareiras germinadas para aproveitar o aquecimento em vários cômodos ao mesmo tempo, o Museu Castelo conta com um acervo repleto de mobiliário e objetos de época, fotos, documentos, equipamentos da ferrovia, troféus e vários outros pertences. Vale lembrar que o Museu funciona aos sábados, domingos e feriados das 10h às 16h (sendo que a entrada do último grupo é às 15h30).

O Quarto do Museu Castelo

Um objeto do Castelinho que chama a atenção é o relógio da ferrovia que tem o número quatro em algarismo romano (“IIII”) diferente do que estamos acostumados a ver (“IV”) , o que também é verificado no Relógio Big Ben. A explicação é que o número sendo assim evitaria que o maquinista se confundisse com o horário e pudesse provocar algum acidente com os trens.

Do  Museu Castelo é possível avistar a Parte Alta de Paranapiacaba, que diferentemente do que falamos sobre a Parte Baixa que é em estilo inglês, aqui o estilo é  o português: sobrados coloridos com comércio embaixo e residência no piso superior. E a maioria dos moradores dessa região eram imigrantes portugueses, italianos e espanhóis que vieram para trabalhar na construção da ferrovia.

Parte Alta de Paranapiacaba

Vale lembrar que é nessa Parte Alta que fica a Igreja Nosso Senhor do Bom Jesus. Ela foi construída ali porque os ingleses que eram protestantes não permitiram que fosse feita na Parte Baixa. Porém ficou na altura do Castelinho e simbolicamente mais perto do céu. O acesso entre as Partes Alta e Baixa se dá pela Passarela Metálica (que vou te mostrar mais pra frente). Não cheguei a visitar a Igreja por falta de tempo, mas já está no roteiro para quando voltar a Paranapiacaba. E se você já conheceu a Igreja, compartilha conosco como foi sua visita.

Uma outra curiosidade da Parte Alta é que ela serviu de inspiração para Tarsila do Amaral, que se encantou com a paisagem quando estava no trem em direção a Santos e pintou a obra: “EFCB – Estação de Ferro Central do Brasil”  em 1924. Mais detalhes sobre esse quadro estão no site: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/tarsila/obras.htm

Admirando a vista do Castelinho…

Saindo do Museu Castelo, fomos para o  Mercado Municipal de Paranapiacaba que foi construído em 1899 para o comércio de produtos e alimentos. Porém em 2003 foi restaurado e agora é utilizado para exposições e eventos. Ele também abriga as famosas feiras da cidade, como o  Festival do Cambuci, que ocorre entre abril e maio e oferece vários pratos feitos com esse fruto típico da Mata Atlântica de sabor azedinho e marcante. Além de licores, cachaças, geleias e doces. Eu provei o suco, o gelinho e o mousse e super aprovei!!!

Algumas Guloseimas do Mercado: Licor de Cambuci, Geléia de Cambuci com Juçara e o Fruto do Cambuci

Do Mercado seguimos para a Avenida Fox para almoçar, pois essa avenida é repleta de restaurantes que servem a la carte ou cobram um valor único em self service. Escolhemos o Restaurante Vila Inglesa, que custava R$ 26 por pessoa no self service. O ambiente era bom e a comida estava gostosa!!!

Ali pertinho do restaurante, fica a  Casa Fox ou  Casa da Memória, que foi construída entre 1897 e 1901 com madeira de pinho-de-riga, porão em pedra e tijolos aparentes e em formato de casas germinadas. Era utilizada para moradia dos funcionários e é possível verificar a diferença entre essa construção e a do Museu Castelo (residência do engenheiro-chefe).

A  Casa Fox também abriga a exposição “Casa da Família Ferroviária” que mostra como era a moradia dos anos 30 com móveis, objetos e fotografias de época. Vale lembrar que a Casa recebeu esse nome em homenagem ao Engenheiro Daniel Mackinson Fox que realizou um importante trabalho na construção da ferrovia. A visitação é guiada e custa R$3,00 e a Casa funciona aos sábados e domingos das 10h às 15h e durante a semana somente mediante agendamento.

Quadros da Família Ferroviária
O Quarto da Casa Fox

Esse último passeio fizemos por conta (para aproveitar o tempinho que sobrou do horário de almoço) e de lá voltamos para o Mercado para encontrar o grupo e continuar nosso City Tour.

Passamos pelo Pau-da-Missa, que era um marco na Vila e onde eram colocados os avisos, principalmente os horários das missas. Ele fica ao lado de uma grande árvore que teve seus galhos cortados, ficando só o tronco. Com o advento das redes sociais o “pau-da-missa” perdeu sua função, ficando agora só como registro histórico.

Continuamos nosso caminho, passando agora pela Passarela Metálica ou Ponte, que foi construída em 1899 para a travessia segura dos pedestres sobre a linha ferroviária, fazendo a ligação entre a Parte Baixa e a Parte Alta de Paranapiacaba. Sua vista é linda e é um belo cenário para fotos.

Atravessando a Passarela até a metade, chegamos ao acesso para o Museu Funicular ou  Museu Tecnológico Ferroviário, que está localizado no Pátio Ferroviário e retrata a história da ferrovia, através de objetos, maquinários e locomotivas de época. O sistema funicular funcionava por meio de um mecanismo de roldanas gigantes que movimentavam os trens por cabos de aço na descida e subida da serra e foi importantíssimo para a exportação do café, permitindo sua chegada ao Porto de Santos.

Maquete do Sistema Funicular

O Primeiro Sistema Funicular (ou Serra Velha) foi inaugurado em 1867 e contava com cinco patamares. O Segundo Sistema (ou Serra Nova) começou a funcionar em 1901 e em 1974 foram substituídos pelo Sistema de Cremalheria (composto por esteira dentada fixa com duas máquinas circulando sobre ela)  que funcionou até 1981. O Museu Funicular funciona aos sábados, domingos e feriados das 10h às 15h e a entrada custa R$ 5,00. Vale muito a pena a vista e o tamanho dos objetos realmente impressiona!!!

No Museu Funicular
Ninguém pode dizer que não ando na linha…

Um detalhe importante é que a neblina vai aumentando ao longo do dia (independentemente da estação do ano) e esse fenômeno acontece por causa da junção do ar quente do mar com o ar frio da Mata Atlântica. Olha só o a névoa nessa foto que foi tirada às 14h40…

Nosso City Tour terminou por aqui, então nos dirigimos para fazer a trilha. No caminho passamos pelo Bar da Zilda, que fica na Rua Direita. Não deu tempo de pararmos nele por conta do passeio seguinte. Mas pareceu ser bem legal e já anotei para a próxima visita. Se você for, me conta como foi sua experiência.

As Trilhas acontecem no Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, que é uma Unidade de Conservação Ambiental desde 2003 e foi criado para a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade da Mata Atlântica, abrangendo uma área de 4,3 km². A entrada no Parque é gratuita, porém para fazer qualquer uma das seis trilhas  oferecidas (Trilha dos Gravatás, do Mirante e da Pontinha – nível fácil/ Trilha das Hortências e da Água Fria – nível médio / Trilha da Comunidade – nível difícil) é necessário o acompanhamento de um monitor credenciado pela Prefeitura de Santo André e os valores custam a partir de R$ 25 por pessoa.

Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba

Escolhemos a Triha do Olho D’Água que faz parte da Trilha dos Gravatás. Fomos passeando pela Mata Atlântica, tendo a oportunidade de respirar um ar bem puro e conhecer espécies nativas, como a Palmeira Juçara (de onde se tira um fruto bem parecido com o Açaí), ver bromélias, cedros, entre outras vegetações.

Fomos caminhando até chegar ao Olho D’Água que é uma das nascentes do Rio Grande. É muito lindo ver a água brotando!! Dá só uma olhadinha nesse vídeo da nascente para ver essa beleza: https://www.youtube.com/watch?v=yXTsuQiCjrI

Vale lembrar que o Núcleo do Olho D’Água apresenta, além da nascente, os reservatórios construídos no final do século passado para o abastecimento de Paranapiacaba e uma parte ainda é usada atualmente para abastecer a Parte Baixa da Vila. A paisagem da trilha é linda e esse contato com a natureza é maravilhoso! Além disso, é muito interessante ver o trabalho que está sendo desenvolvido para a conservação da Mata Atlântica que já foi tão devastada.

Ver a água correndo em meio a esse cenário verde é encantador. A Trilha do Olho D’Água dura cerca de uma hora e é super tranquila de fazer. Vale muito a pena!!! E jpa fica o gostinho de quero mais para voltar outras vezes para fazer as outras trilhas!

Terminamos esse passeio com as energias renovadas!!! E no caminho de volta para a Estação, avistamos o prédio da  Bibilioteca que é um charme e abriga a biblioteca desde 2008, porque o anterior que ela ocupava sofreu um incêndio em 2005. Ela estava fechada pelo fato de ser domingo à tarde, mas se quando você for estiver aberta nos conte como foi.

Continuamos aproveitando o passeio enquanto voltávamos para a Estação. Passamos pelas lojinhas de artesanato e para fechar com chave de ouro nossa visita a Paranapiacaba, paramos na Casa de Chá Raízes da Serra, provamos o delicioso bolo de cenoura com cobertura de chocolate e o maravilhoso suco de Cambuci com leite. Além do sabor, o atendimento cativa!!! Super Recomendo uma passadinha aqui!!!

Hora do Lanchinho na Casa de Chá Raízes da Serra

Também tem o Passeio de Maria Fumaça que percorre as ruas da Vila, não tivemos tempo de fazer. Mas parece ser divertido! Se você fizer nos conte com foi.

Uma última dica é que Paranapiacaba é famosa pelo Festival de Inverno que acontece em julho (geralmente nos dois últimos finais de semana) e é repleto de música, arte e cultura! Se puder, já inclua na sua programação!

Finalmente chegamos à Estação para pegar o trem que retorna a São Paulo às 16h30. Foi um dia muito especial e um passeio maravilhoso!!! Muita gratidão a Deus por mais essa oportunidade!!! E nos vemos na próxima postagem! Até lá!!!

Até mais Paranapiacaba!!!

7 comentários em “Um Mergulho Histórico em Paranapiacaba”

  1. Amei o passeio, estava na companhia de tia e prima, não deu para fazer a trilha, ficará pra próxima. Conheci Léa que registra tudo com muito carinho. Recomendo.

    1. Oi Irandete!!! Que bom que amou o passeio!!! Da próxima vez vai dar tempo de fazer a trilha também!!! Adorei conhecer vocês!!! Muito obrigada!!!!????

    1. Oi Rosa!!! Fico muito feliz que tenha amado esse mergulho!!!! Com certeza você vai aproveitar muito quando fizer ?????

  2. Apaixonante sua viagem, pra vila onde meus bisavós criaram suas famílias. Vindos de Portugal e Espanha, meus bisavós tinham um mercado de secos e molhados, que ainda funciona hoje, e trabalhavam na ferrovia também. Eu amei tanto suas fotos e seu artigo que mandei para meus primos numa pagina nossa, no facebook, muito obrigada por dividir suas experiencias, eu moro em NY e um dia vou ate la visitar também.

    1. Oi Simone, fico muito feliz que tenha gostado da postagem e tenha compartilhado com sua família!!! Muito obrigada!!! Estarei na torcida para que consiga visitar a vila quando estiver no Brasil!!!

Os comentários estão desativados.